domingo, 14 de setembro de 2014

A arte de comer

Fonte: Osho, The Beloved, vol. 1 Discurso 4.

Sempre quando você está fazendo alguma coisa com o coração dividido, isso se prolonga.

Se você está sentado na sua mesa comendo, e se você come somente com parte do coração sua fome permanece, desse modo você irá continuar a pensar sobre comida pelo resto do dia. Se você jejuar, você verá, irá pensar continuamente em comida.

Comer bem não quer dizer somente que você encheu seu estômago. Comer bem é uma arte. Não é somente encher. É uma grande arte: saborear a comida, cheirar a comida, tocar na comida, mastigar a comida, digerir a comida, e digeri-la como se divina. Ela é divina; é um presente do divino.

Os Hindus dizem que comida é divina. Assim, você come com grande respeito, e enquanto come você se esquece de tudo, porque isso é uma oração. É uma oração existencial. Você está comendo o divino e o divino lhe dará nutrição. É um presente a ser aceito com um profundo amor e gratidão.

E você não enche o corpo, porque encher o corpo é ser anticorpo. É o outro polo. Existem pessoas que estão obcecadas com o jejum e existem pessoas que estão obcecadas para se encher de comida. Ambas estão erradas por que de ambas as maneiras o corpo perde o equilíbrio.

Um amante do corpo verdadeiro come somente até o ponto onde o corpo se sente perfeitamente quieto, equilibrado, tranquilo; onde o corpo não se sente inclinado nem para a direita nem para a esquerda, mas bem no meio.

É uma arte compreender a linguagem do corpo, entender a linguagem de seu estômago, entender o que é necessário, dar somente o que é necessário, e fazer isso de uma maneira artística, de uma maneira estética.

Os animais comem, o homem come. Então qual é a diferença? O homem faz uma grande experiência estética no comer. Qual o sentido de ter uma bela mesa de jantar? Qual é o sentido de ter velas acesas lá? Qual é o sentido do incenso? Qual o sentido de pedir aos amigos para vir e participar? É para fazer disso uma arte, não somente encher o estômago.

Mas esses são sinais externos da arte; os sinais internos são compreender a linguagem de seu corpo: escutá-lo, ser sensível para com as necessidades dele. E assim você come, e então, por todo o dia, você não se lembrará de comida de jeito nenhum. Apenas quando o corpo estiver novamente faminto a lembrança voltará. Assim é natural.

terça-feira, 22 de julho de 2014

O que, afinal, eu aprendi com Sándor?

Elvira Maria Leme. (Texto escrito em junho de 1996 , São Paulo)

A ouvir meus próprios passos, a batida de meu coração, e a música de minha respiração.
            A tocar a alma, a valorizar as imagens e o lado esquerdo do corpo; a praticar a escuta intuitiva e a abrir-me para receber o outro. A cultivar o dom da empatia. A me comunicar sem necessidade de barreiras. A desenvolver a sensibilidade. A ser uma trabalhadora da alma, incansável, como abelha - operária em sua colméia. A transpor sistemas representacionais de separação, divisão e decodificação entre sujeito e objeto.
            A ver o mundo sendo nele. A desembrulhar-me para o mundo, desvestir-me da túnica de pele e iluminar a consciência.
            Aprendi a ver a pele como uma membrana fina, que separa o mundo interno e externo. Transduz informações de dentro para fora e de fora para dentro. É película sutil, elástica e flexível, mundo intermediário possibilitador do mundo imaginal.
            Aprendi a mergulhar no mundo imaginativo e a perceber que o meu modo de ver é predominantemente sintético e analógico, que se expressa antes em imagens do que em palavras.
            Aprendi a desenvolver a função intuitiva - ou a dar crédito a ela. É o todo que me convoca (e me aflijo por não poder traduzi-lo em conceitos).
            A atender pessoas colocando-me ao seu serviço (terapia é servir!). A ter fé no processo. A acreditar que o objetivo é o processo em si. A aceitar a transitoriedade da experiência, da vida, não apreensível em esquemas. “Man is not the summit of evolution; he is a transitional being”. (Sri Aurobindo).
            A receber o que herdei de meus pais como uma graça, um legítimo merecimento para meu aprendizado. A esculpir e modelar meu corpo, segundo critérios fora do padrão aceito e valorizado. A descobrir o meu jeito- de- ser- neste -corpo, sua forma de funcionar, seu ritmo e movimento. A funcionar com o coração, a “pensar com o coração”, a tocar com o coração.
            A ver e ouvir e conversar com as costas; tocar com as mãos, os pés, os cotovelos e joelhos; tocar com o olhar e com o sopro. Contar histórias na coluna e cantar no osso sacro.
            A valorizar as minúcias, os recantos, as dobras, espaços interdigitais, os pelos e fios de cabelo.
            A dar batidinhas nos ossos, desatarraxar a cabeça, andar com os pés sobre a coluna, contar tabuada no ventre, tocar o nariz e as orelhas, respirar pelas articulações, puxar e estirar, abrir e deslizar, fazer varreduras e sacudidelas. A praticar o cafuné científico, fiar a coluna, fazer cestinha nos olhos, dançar com os ombros, dançar com os pés nas paredes, dar tapinhas com a mão em concha, tocar sanfona no diafragma, fazer vibrações sutis no corpo todo. A descobrir que o choro e o riso brotam do diafragma. Fazer chacoalhões e rotações, circulinhos nos dedos dos pés, movimentos de oitos deitados e em pé, de oitinhos e oitões. A reajustar os pontos de apoio. A descomprimir fracionadamente o corpo todo. A tocar harpa nas pernas. A dar o passo do dragão, passear no mel, apanhar laranjas, movimentar-me como o moinho, a foice, o flamingo, o pêndulo.
            A tocar e abrir as asas do corpo e do imaginário.
            Aprendi a trabalhar com o corpo num processo de desvestir, desnudar e simultaneamente cobrir, e tapar (proteger), revestindo-o de outras qualidades: descobrir cobrindo (velando e desvelando). É a passagem da pedra bruta ao corpo sutil; desenvolvendo o corpo para torná-lo translúcido. O diáfano corpo-diamante, vida compactada e transparente, atravessado pela luz.
            Aprendi com o método calatônico, a “desatar o odre, a soltar as amarras” da separação do mundo interno e externo. (khalaó, em grego indica “relaxação”, “alimentação”, “afastar-se do estado de ira, fúria, violência”, “abrir uma porta”, “desatar as amarras de um odre”, “deixar ir”, “perdoar aos pais”, “retirar todos os véus dos olhos”).
            Aprendi a arte de edificar meu corpo e adquiri a experiência de Ser um corpo.
            Vi e experimentei que a doença e a dor podem ser o único caminho para nos dar a conhecer e nos resgatar esta condição.
            Aprendi que a pele se alarga, se amolda, se descola e desloca (decola), que contém, que arrebenta, que se estica e se encolhe, e que é fina, muito fina (já fui pele e osso). Que cada parte da estrutura corpórea, a saber, os músculos, os ossos, as fáscias, o tecido conjuntivo, as vísceras, cada articulação, cada pedaço de pele (e cada cicatriz), contam a história do vivido e estão prenhes de potencialidades que através de um toque (de um outro) podem ser despertadas.
            Aprendi que há várias dimensões de toques: o toque forte, o toque firme, o toque sutil, o toque sem toque, o toque de polaridades, o toque imaginado.
            Aprendi a observar o corpo; a percorrê-lo dos pés à cabeça, a perceber seus espaços internos e externos, a observar suas linhas, sinuosidades, dimensões de largura e comprimento, proporções, correspondências, polaridades. A viajar por seus diversos humores e estados.
            A me colocar no espaço, a ganhar espaço; a respeitar a origem, o fundamento, a respeitar os limites, a ver através da fina película-véu da pele.
            Aprendi a recriar o corpo através do toque - tão simbólico quanto o corpo.
            Aprendi a ver com as mãos, a escutar com o corpo, a tocar com os olhos, a ouvir com o coração, a sorrir com os pés, a chorar com os quadris.
            Aprendi a ser pedra e a ser flor. A ser verde e amarela, azul e violeta, num transformismo camaleônico.
            Aprendi a acreditar no poder criador e regenerador. A ouvir a voz do silêncio. O barulho do intestino. A escutar à distância e a ver de perto. A dançar sobre águas e voar com asas invisíveis. A olhar para a noite e enxergar o sol e para a lua cheia e ver sua face luminosa. A cantarolar como pássaro e assobiar como criança. A dançar a dança guerreira do índio e o sacolejar como um sambista. A virar sapo e princesa e a lembrar das mais doces lembranças.
            Aprendi a me virar, após muitos revirares. A dar cambalhotas e ver o mundo de ponta-cabeça, a erguer os pés para o céu e receber suas bênçãos. A virar a bunda para a lua e dormir em paz. A sentir o sentido da vida nas pequenas coisas. A pegar no imaterial, no impalpável com mãos de fada. A acariciar o macio, a acolher o duro e a amaciar. A participar da transformação, passo a passo, sendo surpreendida e surpreendendo-me.
           Aprendi que devo caminhar com a certeza de um devoto, a fidelidade de um samurai e a paciência de um monge.
Aprendi a ser cientista – da psique ; cultivadora de pomares e de plantas, das mais comuns às mais exóticas, jardineira cuidadosa.
          A zelar pelo maior patrimônio - a CASA-TEMPLO que nos foi dada:
O CORPO - METÁFORA DA EXISTÊNCIA

Aprendi a Ser um corpo e a entrar em contato com a sabedoria implícita no processo de construção deste ser através do corpo.
            Aprendi a Arte da Alquimia, que requer o homem todo. Corpo-copo, corpo-taça, corpo-vaso alquímico.
            Tive uma educação voltada para o corpo na minha formação em psicologia. Etimologicamente, educar é educere = tirar de dentro. Educere a água do poço = des-abrochar, des-envolver, des-embrulhar, des-cobrir, des-velar.
O trabalho psicológico é um trabalho de laboratório onde se deixa acontecer. E deixar as coisas acontecerem é promover o retorno ao Ser. O ser é o lugar da existência personificada e ela será experimentada no corpo e não em outro lugar.

Pintura realizada em 27 de junho de 2006 em homenagem a Sandor  
(guache em cartolina)
                                       


Título: Corpo sutil


O CORPO COMO METÁFORA DA EXISTÊNCIA

Corpo semente -nascente-emergente
                                                       Corpo abortado
                                                                                não regado
Corpo desabrochante   
                                 florido
                                           maduro
                                                       receptáculo e doador

                                                                     Corpo ferido ou mutilado            esquecido
Corpo-lua: novo, minguante, crescente, cheio
                                                                                     Corpo sol -luz
                                                                               dia                         noite
Corpo - mente                      Corpo - corpo                   Corpo concreto e abstrato
                              claro                                  escuro
                                          azul, lilás, amarelo   
Corpo multicolorido
                                                                                                       Corpo animal (sangue)
Corpo criança                     velho                      adolescente e aborrecente
                                          Corpo mulher
                                                               homem
Corpo vivo
                  morto                                  parado                                 em movimento
Corpo fértil          seco               nutrido               subnutrido
                                    doente                sadio
Corpo alimento                   Corpo seiva                                 Corpo protegido e ao relento
Corpo alegria                                                                         Corpo tristeza
Corpo multiplicador            Corpo grávido                             Corpo mutante -dançante
Corpo indivíduo                                                                      Corpo grupo
Corpo doce e amargo          suave e pesado                             gordo e magro
                                          Corpo prisão
                                          Corpo libertação
          Corpo Dor                                       Corpo Amor
          Corpo humano                                 Corpo divino
          Corpo matéria                                  Corpo energia
          Corpo terra                                       Corpo universo
  Corpo mãe e da mãe             Corpo Pai, Filho e  Espirito Santo              Corpo Sagrado
                                                Corpo padrão
                                                                      Corpo modelo
                                                                                             Corpo formatado
 Corpo construção                  Corpo templo                                       Corpo cosmos
 Corpo que se sabe                                                                         Corpo que se esquece
 Corpo adormecido                                                                              Corpo acordado
 Corpo alado                                                                                        Corpo -raiz
 Corpo que fala                  Corpo metamorfoseado                              Corpo que cala








sexta-feira, 18 de julho de 2014

A abertura para o novo.

Começo hoje uma aventura de tornar público um conteúdo que considero relevante em relação às áreas nas quais eu trabalho: Psicologia, Mediação e Conciliação.



É um desafio colocado pelas mudanças no comportamento das pessoas influenciadas pela interatividade das mídias sociais. Não rejeito as ferramentas atuais de comunicação, e sim devo me apropriar delas.